colunistas do impresso

A política

data-filename="retriever" style="width: 100%;">"O homem é por natureza um animal político". Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.)

Vivemos um tempo de desprezo pela política e de descrédito dos políticos em geral. Esse desinteresse pela política, sobretudo por parte dos mais jovens, trouxe como resultado a eleição de oportunistas despreparados que, aliados de primeira hora aos fisiologistas de plantão, compõem a base de sustentação do atual governo. Disso resulta um enfraquecimento dos próprios partidos políticos, que viram legendas de aluguel. Vale lembrar que Bolsonaro, depois de "pular de galho em galho", hoje está sem partido. Seu único interesse político parece ser o seu próprio bem-estar e de sua família.

Entretanto, numa democracia, os conflitos só poderão ser resolvidos positivamente, isto é, no interesse da sociedade e não do indivíduo, através da política. Quando Aristóteles descreveu o homem como um "animal político", queria dizer que, diferentemente de todos os outros animais, o ser humano é dotado da razão e do discurso. Ele destaca o fato de haver na natureza humana uma tendência a viver em sociedade e que, ao realizar essa aspiração, o homem promove a sua própria felicidade. Em suma, se vivemos em sociedade, é porque esta é a finalidade do ser humano.

Nesse sentido, "esquerda" e "direita" não seriam conceitos superados, como querem alguns. Ao contrário, representam um "farol" para enxergar as diferentes visões do pensamento político dentro de determinada sociedade. Para Bobbio (filósofo e político italiano já falecido), enquanto a direita é mais "libertária", no sentido de que preza mais a liberdade do que a igualdade; a esquerda é mais "igualitária", no sentido de que preza mais a igualdade do que a liberdade. O que não significa dizer que a direita não se preocupe com a igualdade, nem que a esquerda também não se preocupe com a liberdade. Segundo ele, a "árvore das ideologias está sempre verde". Essa visão idealizada, no entanto, só poderá ser alcançada com a reabilitação da política.

Atualmente, o Brasil tem mais de 30 siglas de partidos políticos, cuja ideologia de cada um não está muito clara, Tome-se como exemplo o Partido Social Liberal (PSL), sob cujo guarda-chuva abrigou-se Jair Bolsonaro para chegar à presidência da República. Fundado pelo deputado pernambucano Luciano Bivar (hoje rompido com Bolsonaro), o Partido só foi registrado oficialmente em 1998. Sua ideologia é liberal apenas no nome, já que, à exceção da economia, defende o conservadorismo nos costumes.

Nas eleições de 2018, embalado pelo discurso contra a corrupção que elegeu Bolsonaro, o PSL deu um formidável salto: passou de apenas um deputado na legislatura anterior para 54 deputados, transformando-se na segunda maior bancada da Câmara (atrás apenas do PT) e, no Senado, onde não tinha nenhum senador, passou a ter quatro. Com a saída de Bolsonaro, o Partido foi esvaziado e deve reduzir significativamente sua bancada nas próximas eleições. Aliás, ao invés de se filiar a outro partido, como fez várias vezes, Bolsonaro pretendia fundar um outro partido (projeto fracassado por falta de assinaturas). Isso só comprova quão frágeis são nossos partidos.

Tanto isso é verdade que um grupo de deputados planeja, segundo foi noticiado, ressuscitar uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), já rejeitada anteriormente pelo Congresso, o chamado "distritão", cujas vagas seriam ocupadas pelos candidatos mais votados ao invés da proporcionalidade partidária, como é hoje. Naturalmente, esse tipo de proposta beneficia pessoas famosas ou de mais poder econômico em detrimento dos partidos.

Sem partidos fortes, não existe democracia. Como disse Churchill, "a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as demais". A CPI da Pandemia pode ser uma boa oportunidade para discutir, através da política, a tragédia sanitária brasileira e evitar que ela se repita no futuro.

CONFIRA OUTROS TEXTOS:
Crise militar

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Culpas Anterior

Culpas

Próximo

Ao mestre Derblay Galvão

Colunistas do Impresso